COMO NOSSOS PAIS

Hoje, dia 19 de janeiro de 2011 faz exatamente 29 anos que a cantora Elis Regina descansou. Seu corpo perdeu os movimentos que tornavam o palco de suas apresentações num verdadeiro espetaculo. Porém a sua voz nunca se calou.
Quem nunca ouviu “nossos idolos ainda são os mesmos e as aparencias não enganam não...” ou quem sabe, “é pau, é pedra, é o fim do caminho,...” letras que ficam guardadas em nossa mente. Não cheguei a conhece-la no auge de sua carreira. Ao nascer ela já havia partido a muito tempo, porém seu carisma, sorriso e letras incriveis que gritavam por justiça e olhos mais atentos sempre me chamou a atenção.
Ela teve a cara e a coragem de fazer aquilo que todos deveriam fazer. Brigar por espaço, fazer-se ouvir. Foi ela mesma. Não usou mascaras. Foi franca e clara. Foi unica e inigualavel. Se olharmos para suas frases polemicas veremos que nada ela tinha de comum. Por exemplo: “Eu quero é ter vida privada e não privada na vida” ou então “A lucidez me leva as raias da Loucura” ou melhor “Dizem que a perfeição é uma meta, eu estava a cata dela, continuo a cata dela. Não sei se eu vou chegar lá algum dia mas eu queria morrer sendo eu”.
Realmente, sua voz não se calou. Hoje, pessoas que acompanharam sua carreira e morte cantam suas musicas, jovens que não a viram ao vivo, como eu, cantam suas musicas, vi uma menininha pequena outro dia cantar uma de suas musicas.
Sua voz está viva. Como em sua musica, a minha dor também é perceber que apesar de tudo o que temos fizemos, nós ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Não houve mudança de ideias. Não houve mudança que nos tornasse melhores. Estacionamos no tempo e no espaço.
Agora sim, “Alô Marciano. Aqui quem fala é da Terra. Você não imagina a loucura.” Nem Elis imaginou que ficaria pior do que na sua época. Mas ficou.
Suicidio, overdose, descuido, não sei o que levou a nossa menina da voz de ouro desta vida. Nem pretendo me ater ao fato disso. O que quero deixar frisado aqui é que essa voz falou alto e forte. Lutou por aquilo que achava certo e nunca se calou. Apenas se anestesiou das loucuras que a vida colocava e muitas vezes tentava empurrar gorla abaixo dela e ela, diferente de muitos de nós não aceitou. Ela se calou por tentar e não se fazer ouvir. Por lutar por quem não tinha vontade de se mexer. Por defender o meu e o teu direito, perdendo na vida dela, o espaço para sua propria existencia.
Relembrar esta lenda, esta estrela neste dia só me faz pensar mais naquilo que me prende a este sofá agora e não me deixa sair para brigar por aquilo que sonho e acredito. A comodidade da minha casa e da minha situação? O conformismo que se instalou nos meus debates e discussoes sempre com as pessoas de opiniões curtas e já pre formadas?
Não sei o que me mantem assim e muito menos o que te mantem assim. Mas como reflexão apara nós encerro esta cronica não com minhas palavras, mas com as palavras da homenageada, que em um paragrafo disse tudo aquilo que tentei fazer aqui em uma pagina e meia:
“Me tomam por quem? Uma imbecil? Sou algo que se molda do jeitinho que se quer? Isso é o que todos queriam, na realidade. Mas não vão conseguir, porque quando descobrirem que eu estou verde já estarei amarela. Eu sou do contra. Sou a Elis Regina Carvalho da Costa, que poucas pessoas vão morrer conhecendo”.
19/01/2011

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