CARROSSEL

“O mundo é um parque. Que roda gigante e a vida gira feito carrossel”
Esta é uma parte de uma das musicas da Xuxa... no restante da musica ela fala das maravilhas da vida e das alegrias, mas eu vou me ater apenas nesta frase citada acima e você já vai entender o por que.
Quando estava nas séries iniciais, era um desconhecido no meio de desconhecidos. Só que agia um pouco diferente deles. Não fui criado na rua, não tive muitos amigos, não tive contato com outras crianças que não fossem meus primos, não via maldade nas pessoas. Achava que todos eram como eu. Me enganei. E me enganei feio!
No inicio, ouvia comentários a meu respeito que me deixavam chateado, mas não pensava nisso como ofensa. De inicio era o – mulherzinha – por andar mais com as meninas. Com o passar do tempo os nomes foram evoluindo – bixinha, gayzinho, viadinho, e iam nesta mesma ordem, porém com terminações em ona, ão e por ai segue. Até chegarmos na fase das agressões físicas. Eu apanhava e ainda tinha que ouvir os guris dizendo que iam me ensinar a ser homem.
Por mais que tivesse certeza de quem era e do que sentia em relação a mim e aos outros, aquilo me fazia mal... muito mal. Comecei a me afastar das pessoas, entrei numa depressão terrível. Tentei me matar. Preferia morrer a ter que encara-los todos os dias... o parque de diversões deles era a escola... e eu, uma das atrações preferidas. Hoje, chamam isso de bullig, na minha época era aprender a viver a vida sem ser fracote.
Adorava estudar, mas fui perdendo o animo de ir a escola. E aí começou meu tratamento com remedinhos que apesar de não curarem a minha dor, me anestesiavam em certas situações. Até que me disseram uma frase: - TUDO PASSA E O MUNDO GIRA. Me acalmei e pensei: - ÓTIMO, TUDO ISTO VAI ACABAR UM DIA. E terminada a 8º série do ensino fundamental tive que mudar de escola, pois a que eu estudava não tinha ensino médio. Um alivio para mim, um lugar novo. Ninguém me conhecia e eu poderia começar novamente.
Errado! Percebi que o problema estava comigo. Saí da antiga escola e levei os problemas junto. Logo de cara, tive a mesma sensação de fracasso ante as piadinhas e chacotas dos outros, porém desta vez eu não era o mesmo. Tinha aprendido a viver com essas alusões a minha sexualidade e nada mudava a minha opinião, claro que a medicação, e as duas consultas semanais à uma psicóloga me ajudaram muito... consegui sobressair os comentários de mau gosto e fui adquirindo espaço. Tinha aprendido a viver. Não foi fácil, mas consegui. Terminei o ensino médio e pensei: - MAIS UMA FASE ACABOU.
Errado de novo! Entrei na faculdade, não tive muitos problemas ali, pois Publicidade e Propaganda é um curso bem misto... existem pessoas de todos os tipos, raças, crenças, posições sociais, estilos de vida e orientações sexuais.
Me livrei de vez disso, pensei. Mais uma vez estava errado. Comecei a trabalhar, tive colegas maravilhosos, mas foi muito difícil ver a forma como alguns me olhavam, e por certas vezes as perguntas que faziam ou as indiretas que eu tinha que ouvir. Então me acostumei. Pelas empresas que passei tive que enfrentar isso, porém todos estão lá para trabalhar e não se incomodar e talvez até ser demitido.
Iniciei a pouco um curso pelas manhãs... uma turma boa de se trabalhar, porém três colegas me chamaram a atenção. Em sala de aula, ouço os mesmo comentários, as mesmas piadinhas e a mesma forma ofensiva de se referirem a mim. Exatamente igual ao ensino fundamental, médio, trabalho e agora neste curso. Esse ciclo não tem fim. Mudam os rostos, mudam os nomes, mas as pessoas são as mesmas. As mesmas mentes pequenas, as mesmas rédeas que as impedem de olhar para outro lado, a mesma falta de opinião própria. Só que o engraçado é que, estando um deles sozinho, este não abre a boca, precisam estar os 3 juntos para começar as possíveis tentativas de humilhação. Desculpem, já estou vacinado!

Enquanto eu cresço, aprendo, evoluo, aprendo a brilhar sozinho eles continuam lá, dependendo da luz de outros, de escadas para subir, de uma média medíocre para “evoluir” e receber um diploma escrito: Aprovado, média 5,0.
Desculpa, ser humano mediano para mim não serve. Ou eu sou 10 ou não sou digno de olhar para outros com olhar de cobrança. Quero ser o melhor em tudo o que faço. Não vou ser apenas mais um na multidão. Agir somente em grupo.
Agora, explicando a 2º frase da musica, posso dizer: O mundo é uma roda gigante e a vida gira feito um carrossel. Tudo recomeça... exatamente igual ao inicio. O caminho não muda, a velocidade não muda, a paisagem não muda... o que muda é a nossa emoção e reação em cada giro que o carrossel dá.

09/07/2010

BUSCA (IN)CANSÁVEL

A noite é uma tortura... correntes de fantasmas imaginários do meu passado não me largam... ouço seus gritos, seus pedidos de perdão abafados pelo som de muitos erros que se sobressaem aos anteriores.
Busco uma luz... que diziam haver no meu olhar... nada! Só encontro um olhar vazio que busca por respostas que possivelmente nunca encontrará. Nas fotos de infância, vejo uma criança morta, que foi esquecida por todos... não se sabe como sumiu e por que sumiu.
Tem um estranho dentro da minha casa. Alguém que não reconheço mais. Olho seus e-mails, orkut, twitter, blog, computador e o pior... o seu espelho. Vejo alguém refletido ali, mas esse não sou eu. E também não é aquela criança.
Aquela criança era meiga, amada, carinhosa... e eu nem sei quem sou hoje, mas não me reconheço mais. Todos buscam sua própria identidade. Com o tempo se acham... eu, com o tempo me perco.
Casei de rótulos: se está acima do peso: gordo!; se está abaixo: anorexico!; se usa óculos: quatro olhos!; se é delicado: bicha!; se procura ajuda: fraco!; se não procura: teimoso!; se faz o que quer: rebelde!; se apenas obedece: marionete!
Não precisamos de rótulos. Não bastasse as condições que a vida nos impõe: sexo, raça, cor do cabelo, cor dos olhos, altura, etc. ainda temos os rótulos que as pessoas nos colocam. Nos julgam e nos condenam por aquilo que julgam ser o certo. Acham estar sempre certas em tudo.
Hipocrisia... nossa sociedade é orientada pela hipocrisia, agimos pela hipocrisia, respiramos pela hipocrisia, vivemos uma hipocrisia.
Mas não é culpa nossa (que desculpa ridícula). Começamos tentando aparentar ser aquilo que não somos para agradar aos outros. Usamos roupas escolhidas a dedo pela grande industria da moda, que manipula seus seguidores a envergonharem aqueles que a ela não se dobram. Compramos produtos de marcas famosas para mostrar status e mascarar os pobres, cegos e nus que somos. Dizermos que somos alguém, quando na verdade nem sabemos o que somos.
Tudo nos foi imposto antes de nascermos (obrigado pela frase, Cazuza)... mas aí crescemos e damos continuidade a esse estilo patético e ridículo de vida que aprendemos... e passamos adiante com nossos filhos. Mas o grande problema não é passar uma cultura errada e sim, confundirmos a mente daqueles que como eu, não tem muito auto controle e nem uma base mental sólida.
Deixamos essas pessoas perdidas, sem saber para onde correr, tiramos seus gostos, seus desejos, suas vontades e as ensinamos como devem viver para nós ficarmos felizes com elas.
Com o tempo elas percebem que não se encaixam em nenhum grupo, da família parecem parentes muito distantes, não se ambientalizam, buscam uma comunidade, uma sociedade para fazer parte, sentirem-se importantes e quando não encontram se frustram. Uns acabam com suas dores... outros se deixam levar pela correnteza. Colocamos as pessoas dentro de labirintos: labirinto das drogas, labirinto do sexo desregrado, labirinto do excesso de álcool e as vezes, dentro do labirinto de si mesmas... e depois as culpamos pelos caminhos que seguiram... julgando estarem erradas quando na verdade em vez de estendermos a nossa mão para elas, damo-lhes bofetadas na face para sentirem a vergonha que nós não sentimos apesar de tudo o que fizemos... as deixamos sem escolhas, sem caminhos, sem saídas. Parabéns pra nós!!! Conseguimos o que queríamos!!! Mais um derrotado, fracassado. Como se eu ganhasse vendo outro perder.
Perdido dentro de mim. Pior, preso dentro de mim... e por não me conhecer, não sei como sair! Se aquele do espelho pudesse me ajudar, mas vejo em seu olhar que está mais longe das respostas do que eu. Já andou por onde disseram para ele andar, percorreu caminhos que achou ser o certo e em vez de respostas trouxe mais perguntas... se aquela criança das fotos me ajudasse, mas ela não existe mais... seu sorriso naqueles papéis vai ficando amarelado... sua essência sumindo... seu legado perdido... suas palavrinhas num eco distante.
Perdi-me dentro de mim
Quando me achei não me reconheci, por isso não me ajudei
Ali fiquei. Pensando ter passado por mim...
Ali chorei. Não por não poder sair...
Mas por ter saudades de mim.
08/07/2010