PELE E PELOS


A sensação de perda é a pior que poderíamos sentir. Perder alguém que amamos é a dor que nos corrói por dentro, nos desmorona. Não temos como disfarçar a tristeza dessa perda.

Na morte de alguém querido, entendemos que a vida é um ciclo: tudo começa e termina. Sabemos que a pessoa que tanto amamos não está ali por motivos de força maior. E quando perdemos a pessoa que amamos por vontade dela própria?

O que fazemos quando a pessoa que mais amamos no mundo pára, e em silencio diz que acabou. Ela decidiu sair, decidiu nos abandonar. Não quis mais estar aqui ao nosso lado.

Ficamos sem chão e paredes, perdemos a sentido da nossa fraca existência e nos enclausuramos num rio de magoas, tristezas e incertezas. As vezes a enxurrada de sentimentos é tão grande que estra-vaza nosso interior e se mostra como lagrimas caindo pela face. Aquela face que um dia foi acariciada, beijada, lambida, sentida, amada. Hoje é apenas uma face que parece que logo vai ser esquecida ou pior: trocada.

Aqueles beijos não fazem mais sentido? Meu toque já não te satisfaz? O meu amor já não é o suficiente? O que poderia eu fazer? Trazer para dentro de mim a lagrima que escorre pela face... uma gotinha que vem carregada de dor, magoa, frustração  medo, solidão e saudade. Recolher todos os beijos que carinhosamente dei em todo o seu corpo? Retirar as minhas digitais do seu corpo inteiro?

Pés, pernas, coxas, nádegas  barriga, dorso, peito, braços, pescoço, rosto e cabelos? Onde mais te toquei? Posso ter tido o seu corpo inteiro, tocado o seu corpo inteiro, mas não tive o seu coração por inteiro, acho que nem ao menos consegui toca-lo.

Sentia bate-lo, mas não sabia que o motivo de suas batidas não era a minha existência e nem o meu amor.
Teu perfume ainda está impregnado na nossa casa, ou melhor, minha casa. O cheiro do nosso amor está grudado em nosso lençol, ou devo dizer meu lençol?

Tua mão firme a me tocar. A minha que delicadamente acaricia cada pedaço, cada parte de você.  Minha perna fraqueja ao pensar que não sentirei tua respiração pesada junto a minha. Teu corpo novamente junto ao meu. As pernas que um dia me ergueram do chão, me levantaram para o alto, me mostraram que correr é melhor que caminhar hoje seguem em seus passos sozinhas... e as minhas voltam a fraquejar.

Minha pele nos teus pelos  meus pelos em tua pele. Minha boca na tua. A tua boca na minha. Lambidas... mordidas... chupadas... e  juntamente com a seiva da minha virilidade foi sugada a minha alma pela tua boca, pelo teu corpo e alma.

Onde saberei separar o eu de você, se você estava completamente dentro de mim. Não sei mais onde você está pois sinto só você dentro de mim, vivo em mim, pulsando, sentindo, curtindo, gozando, sendo....

Quem somos nós hoje? Você continua vivo, com duvidas porém você mesmo. E eu? Eu sou aquilo que sobrou de você.

Somente as sobras daquilo que você foi e que hoje quer esquecer. Mas uma coisa eu te peço: não me obrigue e te esquecer enquanto o teu gosto não sai da minha boca e o toque das tuas mãos no meu corpo continua quente.
17/10/2012