Olho pela janela e vejo aquele céu apagado, nublado e sem
vida. Abro a janela e sinto o vento gelado passando pelo meu corpo. Nesse
momento minha mente divaga na seguinte ideia: o que está mais feio: o tempo lá
fora ou o tempo dentro de mim.
A promessa do Sol brilha para ambos. Tanto para o tempo lá
fora quando para o tempo dentro de mim. É verão. Horario de verão, mas não
saímos do inverno. Nem o tempo, nem eu.
A tempestade que destruiu todo por onde passou, derrubou
arvores, levou carros, pessoas e casas passou por dentro de mim também e levou
tudo o que ali estava construído: sonhos, ideias e ideais, perspectivas,
esperanças e intenções. Arrasou com tudo.
Assim como os governantes eu clamo pois o estado já é de
calamidade.
Choveu tanto dentro de mim que a agua jorrou para fora.
Jorrou com toda a violência que poderia ter, vazou pelos meus olhos, escorreu
pela minha face, caiu em meu travesseiro.
A tempestade passou, mas os estragos deixados por ela
ficaram. Arruinados todos os planos estão agora no chão. Tenho que começar de
novo, mas internamente não tenho recursos para tal.
Busco auxilio aonde encontro abrigo, não sei se em alguém,
se em algo, se num abraço, num cheiro ou num afago, aí me lembro: tudo foi
levado pela tempestade.
Resta agora, em meio ao tempo feio, ao vento gelado que está
dentro e fora de mim, reconstruir tudo o que foi perdido. Recomeçar, esta é a
palavra de ordem.
Escuto as famílias gritarem, se lamentarem pois tudo o que
tinham foi levado. Nessas horas eu me pergunto a quem recorrer se tudo o que
tinha era o sentimento e as sensações que estavam dentro de mim e também foram
levadas.
Carros e casas se constroem novamente. E sentimentos? Como
reconstruir algo que se perdeu? Como recomeçar se nem ao menos restou algo?
Dentro de mim ideias soltas no vazio. Coração repleto e
machucado. Peço encarecidamente, forças para recomeçar. Tudo está em estado de
calamidade.
24/10/2013