SAUDADES DO ESPELHO

[...] Um homem não nasce pronto. Ele se faz com dor e sofrimento... é duro porém solitário. [...]
Essa frase ouvi num filme que assisti recentemente. Não me recordo o filme, porém a frase ficou marcada em minha mente. E bate de frente com a realidade a minha volta.
Tive a maior perda da minha vida a quase um ano. Perdi alguém que amava muito, porém estando agora sozinho, tive de aprender a caminhar com minhas próprias pernas. Aprendi ser a minha voz. Aprendi me virar sozinho. Mas as pessoas a minha volta não tiraram as mesmas lições que eu.
A mulher forte que minha mãe tinha se tornado voltou a ser indefesa e apática. Voltou a ser a mesma de antes. Se calar em todas as situações e muitas vezes servir de tapete e nada falar. Desaprendeu a brigar. Desaprendeu a viver. Voltou a ser quem era. Não quis mudar. Se abateu.
Não posso dizer que este fato passa desapercebido por mim. Estava gostando de ver o crescimento da minha mãe. Mas tudo voltou a ser como antes. Os animais que temos em casa, duas cachorrinhas e uma gatinha, voltaram a ser o centro das atenções. Voltaram a ser os objetos da sua vida.
Complicada essa situação pois ela ta perdendo as pessoas a sua volta e não percebe isso. Quando resolvi abrir a boca e alerta-la sobre isso, recebi palavras que me feriram e machucaram. Ouvi que nunca tive respeito e nem educação por nada e nem por ninguém. Quem era eu para cobrar presença e atenção? Ouvi que já estou grandinho e sei me virar sozinho. Mas abraçar a mim mesmo não preenche o meu vazio e minha solidão.
Quem sabe eu sou o filho que saiu de dentro da tua barriga. Pensei... mas não disse nada. Tudo que dissesse seria distorcido e usado contra mim.
Duas reações diferentes quanto a estas atitudes. Minha irmã se calou. Eu tentei abrir a boca. Ambos mal sucedidos em suas decisões. Estamos sozinhos. O braço forte ao qual recorria não está mais estendido. O porto seguro que minha irmã buscava nestas situações foi ocupado por outros e ela também perdeu seu norte.
Tornei-me mais contestador... isso faz mal. Não a mim, mas as pessoas ao meu redor. Minha mãe disse-me que isso incomoda, irrita e não era esse o filho que ela esperava ter. Prometi mudar, ser o filho que ela queria. Não consigo.
Não consigo ser diferente. Não consigo me calar. Não consigo aceitar tudo e baixar a cabeça. Disso ela tira o fato de que não tenho respeito e nem educação. Questionada sobre aquilo que aprendeu com minha avó em 45 anos que viveu ao seu lado a resposta foi dolorosa: aprendi a ser totalmente diferente dela.
Diferente do meu referencial de vida, de ser humano, de cidadã e de mãe.
Não sei o que fazer agora, a quatro dias tenho entrado e saído de casa e a apatia quanto a minha presença tem sido igual. Chego a pensar que se não estivesse aqui a situação seria diferente. Chego a pensar em sumir. Quem sabe assim a memória do filho perfeito fosse refeita em sua cabeça e ela pudesse ao menos imaginar que um dia ele existiu...
Desculpa, não consigo mudar e por não conseguir isso percebo que nunca serei aquilo que ela espera de mim. Posso ter minha faculdade concluída... as melhores notas da turma... o melhor emprego, porém nunca serei o que ela espera de mim...
Vejo minha imagem e não me sinto feliz em me calar quando deveria falar... esse não sou eu... não foi o que aprendi...
Que saudade da minha avó... que saudades da sua força... que saudades de mim quando estava perto dela... que saudades do meu exemplo perfeito... que saudade daquele espelho.


Percebo então que sozinho terei que crescer... dor e sofrimento me fortalecerão... porém sozinho, na solidão
12/09/2010

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