BUSCA (IN)CANSÁVEL

A noite é uma tortura... correntes de fantasmas imaginários do meu passado não me largam... ouço seus gritos, seus pedidos de perdão abafados pelo som de muitos erros que se sobressaem aos anteriores.
Busco uma luz... que diziam haver no meu olhar... nada! Só encontro um olhar vazio que busca por respostas que possivelmente nunca encontrará. Nas fotos de infância, vejo uma criança morta, que foi esquecida por todos... não se sabe como sumiu e por que sumiu.
Tem um estranho dentro da minha casa. Alguém que não reconheço mais. Olho seus e-mails, orkut, twitter, blog, computador e o pior... o seu espelho. Vejo alguém refletido ali, mas esse não sou eu. E também não é aquela criança.
Aquela criança era meiga, amada, carinhosa... e eu nem sei quem sou hoje, mas não me reconheço mais. Todos buscam sua própria identidade. Com o tempo se acham... eu, com o tempo me perco.
Casei de rótulos: se está acima do peso: gordo!; se está abaixo: anorexico!; se usa óculos: quatro olhos!; se é delicado: bicha!; se procura ajuda: fraco!; se não procura: teimoso!; se faz o que quer: rebelde!; se apenas obedece: marionete!
Não precisamos de rótulos. Não bastasse as condições que a vida nos impõe: sexo, raça, cor do cabelo, cor dos olhos, altura, etc. ainda temos os rótulos que as pessoas nos colocam. Nos julgam e nos condenam por aquilo que julgam ser o certo. Acham estar sempre certas em tudo.
Hipocrisia... nossa sociedade é orientada pela hipocrisia, agimos pela hipocrisia, respiramos pela hipocrisia, vivemos uma hipocrisia.
Mas não é culpa nossa (que desculpa ridícula). Começamos tentando aparentar ser aquilo que não somos para agradar aos outros. Usamos roupas escolhidas a dedo pela grande industria da moda, que manipula seus seguidores a envergonharem aqueles que a ela não se dobram. Compramos produtos de marcas famosas para mostrar status e mascarar os pobres, cegos e nus que somos. Dizermos que somos alguém, quando na verdade nem sabemos o que somos.
Tudo nos foi imposto antes de nascermos (obrigado pela frase, Cazuza)... mas aí crescemos e damos continuidade a esse estilo patético e ridículo de vida que aprendemos... e passamos adiante com nossos filhos. Mas o grande problema não é passar uma cultura errada e sim, confundirmos a mente daqueles que como eu, não tem muito auto controle e nem uma base mental sólida.
Deixamos essas pessoas perdidas, sem saber para onde correr, tiramos seus gostos, seus desejos, suas vontades e as ensinamos como devem viver para nós ficarmos felizes com elas.
Com o tempo elas percebem que não se encaixam em nenhum grupo, da família parecem parentes muito distantes, não se ambientalizam, buscam uma comunidade, uma sociedade para fazer parte, sentirem-se importantes e quando não encontram se frustram. Uns acabam com suas dores... outros se deixam levar pela correnteza. Colocamos as pessoas dentro de labirintos: labirinto das drogas, labirinto do sexo desregrado, labirinto do excesso de álcool e as vezes, dentro do labirinto de si mesmas... e depois as culpamos pelos caminhos que seguiram... julgando estarem erradas quando na verdade em vez de estendermos a nossa mão para elas, damo-lhes bofetadas na face para sentirem a vergonha que nós não sentimos apesar de tudo o que fizemos... as deixamos sem escolhas, sem caminhos, sem saídas. Parabéns pra nós!!! Conseguimos o que queríamos!!! Mais um derrotado, fracassado. Como se eu ganhasse vendo outro perder.
Perdido dentro de mim. Pior, preso dentro de mim... e por não me conhecer, não sei como sair! Se aquele do espelho pudesse me ajudar, mas vejo em seu olhar que está mais longe das respostas do que eu. Já andou por onde disseram para ele andar, percorreu caminhos que achou ser o certo e em vez de respostas trouxe mais perguntas... se aquela criança das fotos me ajudasse, mas ela não existe mais... seu sorriso naqueles papéis vai ficando amarelado... sua essência sumindo... seu legado perdido... suas palavrinhas num eco distante.
Perdi-me dentro de mim
Quando me achei não me reconheci, por isso não me ajudei
Ali fiquei. Pensando ter passado por mim...
Ali chorei. Não por não poder sair...
Mas por ter saudades de mim.
08/07/2010

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